Sessão Azul realiza sessões durante Mostra de Animação no CCBB

Projeto tem objetivo de adaptar as salas de cinema para o público autista

Por: Bárbara Coelho

O ambiente a meia luz, o som mais baixo do que o normal, crianças circulando livremente entre as poltronas: essas são as características de uma sala de cinema adaptada pela Sessão Azul. O projeto já realizou mais de 390 sessões especiais em 20 cidades brasileiras e atingiu diretamente mais de 34 mil pessoas, em apenas 3 anos de realização.

O projeto foi criado em dezembro de 2015, a partir de uma iniciativa das psicólogas Carolina Salviano e Bruna Manta, que já faziam um trabalho de socialização com seus pacientes que sofrem com o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). O objetivo é atingir um público maior e proporcionar a atividade para as pessoas que não têm condições de arcar financeiramente com o atendimento de um profissional. Outro organizador é Leonardo Bittencourt Cardoso, gerente de projetos responsável pelo planejamento e realização das iniciativas voltadas para o TEA, que conta como as sessões acontecem.

Leonardo Bittencourt com Carolina Salviano e as filhas do casal (Foto: Instagram Sessão Azul)

“Apesar de serem adaptadas, as sessões são abertas ao público e todos são muito bem-vindos. Recebemos crianças autistas, que são o nosso foco, mas também recebemos crianças com outras necessidades especiais e crianças neurotípicas (que são as chamadas “normais”). As salas de cinema contam com a ajuda de profissionais e pais capacitados para acompanhar o filme, fazer o acolhimento do público e ajudar no que for necessário”, diz Leonardo.

(Foto: Bárbara Coelho)

Duas dessas sessões aconteceram no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) do Rio de Janeiro durante a Fábrica de Sonhos – Mostra de Animação, com a exibição de Como Treinar o Seu Dragão, no dia 1º de abril, e Trolls, no dia 3. As sessões também fazem parte da Semana de Conscientização do Autismo, realizada pelo CCBB Educativo para comemorar o Dia do Autista (2 de abril). Um dos integrantes do Educativo, Daniel Bruno, fala sobre a sua participação na Semana. “Nós acompanhamos as duas sessões especiais e antes do filme começar, gostamos de falar com o público para dar as boas-vindas. Além das exibições, o Educativo vai oferecer três visitas mediadas das exposições para o público autista, durante a semana. Nós preparamos uma sala de acolhimento, para eles poderem interagir e tentamos fazer uma integração entre o filme e a visita.”

Quem esteve presente na exibição de Trolls, no dia 3, foi a Valdenice Mittozo, que acompanhou a filha Erothides “Tidinha” e o vizinho Juan, ambos com TEA. Ela conta um pouco da sua experiência no CCBB. “Na segunda assistimos Como Treinar Seu Dragão e depois fomos na exposição da DreamWorks. O passeio foi tão legal que voltamos hoje de novo para assistir Trolls e eu adoro fazer esses programas porque proporciona momentos de alegria para eles. Sempre que eu posso, estou levando um grupinho para essas atividades”. Tia Val, como é chamada por Juan, ainda agradece aos integrantes do CCBB Educativo que acompanharam a sessão. “Muito obrigada por estarem dando essa oportunidade maravilhosa para essas crianças, obrigada por fazerem minha filha e o Juan felizes”.

Uniformizados com a camisa escrito “Eu amo um Autista”, a família de Priscila Gonçalves Ribeiro também está aproveitando a programação do CCBB. Priscila levou o filho Arthur, de 4 anos, pela primeira vez em uma exposição e conta como foi ver seu filho interagindo com outras pessoas. “Eu fiquei um pouco com medo porque não sabia como seria a reação dele, mas foi tudo maravilhoso. Ele se realizou desenhando nas telas, não se assustou com nada e se sentiu em casa. As pessoas da Sessão Azul, que abordaram ele, foram muito atenciosas, elas estão empenhadas a fazer um trabalho de inclusão.”

Priscila ainda fala sobre a iniciativa do CCBB. “Não é fácil achar passeios que eu possa levá-lo com tranquilidade. Só de ter essas atividades especiais, com pessoas especializadas que sabem como tratar, como conversar com ele, é muito gratificante e deveria ter em todo lugar. É muito gostoso para um pai ver o sorriso no rosto do filho, é uma alegria que contagia.”

Painel de abertura da "DreamWorks Animation: A Exposição - Uma Jornada do Esboço à Tela" (Foto: Bárbara Coelho)

O curador da Mostra de Animação é Breno Lira Gomes. O produtor da BLG Entretenimento já assinou a curadoria de vários projetos na área de cinema, como mostras e festivais, e é o responsável pela Fábrica de Sonhos, que exibe 35 longas metragens dos estúdios DreamWorks. “Aproveitando o sucesso da DreamWorks Animation: A Exposição – Uma Jornada do Esboço à Tela, o CCBB e eu tivemos a ideia de organizar a Mostra para dialogar com a exposição.”

Ele fala também sobre a importância da Mostra. “É uma oportunidade de ver todos os filmes em uma sala de cinema e eu, particularmente, sou fã da DreamWorks porque ela trabalha questões importantes de uma forma que eu nunca imaginei que veria em uma animação.”

Além da Sessão Azul, a Fábrica de Sonhos contou com três sessões com recurso de acessibilidade com as exibições de Madagascar, com legenda descritiva, Shrek, com áudio-descrição, e Como Treinar o Seu Dragão, em Libras. “Eu já tinha realizado sessões com recursos de acessibilidade para surdos e fizemos uma parceria com o Instituto Nacional de Educação de Surdos, que conseguiram juntar um grupo maior para ir curtir o filme. Mas foi a primeira vez que eu fiz uma Mostra com a Sessão Azul e o resultado foi muito bacana.”

O objetivo de Breno é que a informação dessas sessões cheguem até as pessoas com TEA ou seus familiares e que eles vão por contra própria, sabendo que vão assistir ao filme em uma sala adaptada para recebê-los. “É gratificante proporcionar isso e é muito importante na integração do público convencional com as pessoas com distúrbios sensoriais.” Assim como Leonardo, Breno defende a ida do público geral na Sessão Azul, mas avisa que a prioridade é proporcionar um ambiente confortável para a pessoa autista. “O público é bem-vindo, mas tem que entender que a sessão é adaptada para atender as necessidades do autista. A forma de passar o filme e a organização das salas é diferente, se permite coisas que normalmente não se permite numa sala de cinema convencional porque o tempo daquele jovem é diferente e temos que respeitar isso".

Breno Lira Gomes, curador da "Fábrica de Sonhos - a Mostra de Animação" (Foto: Bárbara Coelho)

A Fábrica de Sonhos – Mostra de Animação acontece de 20 de março a 15 de abril no Rio de Janeiro e a programação está disponível no site do CCBB. Já a exposição da DreamWorks Animation teve início em 6 de fevereiro e fica em exibição também até 15 de abril, de quarta à segunda, das 9h às 21h. A entrada para os dois eventos é gratuita.