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Clubes reforçam o encontro presencial como arma de leitura

  • bixcoitodiario
  • 12 de jun. de 2019
  • 4 min de leitura

Iniciativas de livrarias e leitores independentes são uma forma de compartilhar experiências sobre livros


Por: Bárbara Coelho e Vitor Santos


Com a vontade de sair da rotina, Antônio Berto aceitou o convite feito pela livraria em que trabalha, no bairro de Ipanema, para mediar um clube de leitura especializado em literatura policial. Apesar do gênero não ser o seu preferido, ele permanece na função há mais de 5 anos, passando a ler livros que não seriam de seu interesse.


Além dos encontros mensais, realizados na última terça-feira de cada mês, o grupo também se comunica pelo whatsapp sobre assuntos que se aproximam da temática dos livros. “Já deixei avisado que ali é só para tratar de literatura e arte. Na época da eleição, quando começou postagens sobre política, ameacei sair, mas depois elas pararam”, afirma Antônio.


Antônio Berto na seção de livros policiais, gênero de seu clube de leitura (Foto: Bárbara Coelho e Vitor Santos)

O livreiro ressalta que faz suas escolhas para o clube, pensando na disponibilidade dos produtos na loja, já que os participantes costumam comprar as obras na livraria. Outra preocupação é com o vocabulário do livro. “Dou uma olhada para ver se não tem algo agressivo, como um fuck no meio. Teve uma vez que escolhi um livro com muitos palavrões e elas reclamaram”. Como é possível perceber pela fala de Antônio, o clube é formado majoritariamente por mulheres, que inclusive participam de outros clubes, sendo apelidadas como “ratas de clube”, pelo próprio mediador.


A livraria de Ipanema possui outro clube, organizado por José Américo, conhecido pelo grupo como “Zé”. O livreiro destaca a importância da leitura presencial em conjunto, com a livraria deixando de ser apenas um espaço de compra, mas também de troca de ideias e impressões do que se consome. A iniciativa dos clubes ocorre em outros bairros da cidade, como no Centro, onde Ricardo Gameiro começou a atuar como mediador há dois anos. Ele já participava de encontros para discutir livros na época da faculdade e ressalta que sempre está à procura de outras obras que dialogam com o livro escolhido.



Os mediadores Ricardo Gameiro (da Travessa - Centro) e Zé Américo (da Travessa - Ipanema) falam sobre seus clubes. (Vídeo: Bárbara Coelho e Vitor Santos)

A composição atual do grupo de Ricardo, com cerca de sete participantes, se mantém há quase quatro anos, com alguns acréscimos de integrantes ao longo desse período. Sônia, que participa das reuniões há um ano, destaca que o clube é uma possibilidade que ela tem de se aprofundar na leitura. “Fico ansiosa para o encontro para saber as opiniões delas, porque algumas coisas escapam na hora da leitura. É uma forma de enriquecer o olhar”, diz.


Ao contrário dos membros dos clubes de Ipanema, que estabelecem vínculos no intervalo entre os encontros, os participantes do Centro afirmam que preferem manter o contato apenas nos momentos das discussões. “Eu não sei da vida de nenhuma delas; não conheço ninguém; não sei da profissão de ninguém. E isso é bom, porque é diferente. Quando converso com minhas amigas sobre livros, já sei o que elas vão pensar, aqui não”, explica Vânia, que está no clube desde 2016.


Os clubes de leitura também são uma forma de recuperar autores e gêneros que são esquecidos pelas grandes editoras e que, por consequência, acabam não tendo um grande alcance no público. O grupo Leia Mulheres surgiu em 2015, em São Paulo, a partir da hashtag #readwomen2014 (leia mulheres 2014), ação proposta pela escritora inglesa Joanna Walsh. A intenção de Walsh era propagar o trabalho de escritoras de diferentes gêneros e que não possuíam tanta visibilidade, mas isso não incluía a formação de um clube de leitura propriamente dito.


Poucos meses após o lançamento na capital paulistana, o Leia Mulheres veio para o Rio de Janeiro e conta com encontros mensais. Aline Aimée e Juliana Sphor, duas das quatro mediadoras, enfatizam a adesão que o clube vem tendo. “Antes, variava de acordo com o livro escolhido, agora já temos um público mais fiel. Com a criação da página no Instagram, mais pessoas passaram a nos conhecer e a vir”, destaca Aline.


Outro clube mediado por mulheres, é o do CEFET/RJ, escola pública localizada no bairro do Maracanã. A ideia surgiu durante as eleições do grêmio estudantil, sendo uma das propostas da chapa vencedora. Os alunos Maurízio Santos e Gabriela Dias foram até a coordenação do departamento de português da escola para discutir a proposta, e como as coordenadoras já tinham vontade de fazer algo semelhante, foram necessários apenas alguns ajustes. “A parceria com a coordenação foi importante, porque a gente conseguiu submeter o clube como um projeto de extensão, o que nos dá mais recursos, como reservar salas e auditórios para palestras”, ressalta Maurízio.



As mediadoras Aline Aimée e Juliana Sphor (do Leia Mulheres), e Lidiane Oliveira (do Clube de Leitura CEFET/RJ) falam sobre seus clubes. (Vídeo: Bárbara Coelho e Vitor Santos)


Assim como no caso dos alunos do CEFET/RJ, os idealizadores do Clube de Leitura da Zona Oeste começaram a pensar em marcar encontros regulares para discutir literatura, por sentirem falta de espaços culturais em sua zona da cidade. Para José Fontenele, um dos coordenadores do clube, a proximidade física entre as pessoas para trocar opiniões é superior ao contato feito pela internet. “Se por um lado a presença online tem mais alcance, por outro ela oferece menos empatia e sensibilização entre as pessoas. Os eventos pessoais lembram que somos seres sociais”, explica Fontenele.


O coordenador ainda destaca que os participantes passaram a ler mais, sobretudo poesia, passando a se questionar sobre aspectos da obra que estão lendo, como a resolução da trama. Há também, uma alteração no hábito de consumo, com uma maior compra de livros em sebos. O clube ainda conta com uma oficina de escrita, no bairro de Campo Grande, voltada para a produção ficcional.



Localização dos clubes entrevistados. (Arte: Bárbara Coelho e Vitor Santos)

O ponto comum entre os grupos é a afirmação de que a discussão em conjunto e a possibilidade de conhecer novos livros são dois dos fatores mais enriquecedores de participar de clubes de leitura. Como realça Antônio, “a melhor coisa do clube, é você entrar na sala falando que ‘odiou um livro’, e sair dizendo, ‘eu não tinha pensado nisso, que ótimo’”.




Participantes durante o encontro de seus respectivos clubes de leitura (Fotos: Bárbara Coelho e Vitor Santos)

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