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Retoques em preto e branco

  • bixcoitodiario
  • 8 de mai. de 2019
  • 2 min de leitura

Iniciativa recria a foto clássica de Machado de Assis para retratá-lo como negro


Por: Maria Alcina Quintela


A Faculdade Zumbi dos Palmares, de São Paulo, em parceria com a agência de publicidade Grey promovem a campanha “Machado de Assis Real”, cujo objetivo é ressaltar a identidade negra de um dos maiores escritores brasileiros, fundador da Academia Brasileira de Letras (ABL).


A fotografia original, muito conhecida do escritor e que ilustra a maioria de seus livros, “muda a cor da sua pele, distorce seus traços e rejeita sua verdadeira origem", segundo a iniciativa.


Machado de Assis em imagem clássica de 1892 e em foto recriada pela campanha "Machado de Assis Real" — Foto: Divulgação

As mil palavras de uma imagem


Para Leandro Pimentel, professor de fotografia da Faculdade de Comunicação Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), a campanha “Machado de Assis Real” reflete uma disputa de narrativa, pois a fotografia é sempre uma construção com base no referente e, no caso de retratos, como o de Machado, visa compor um tipo de experiência com o personagem que aparece na imagem. Alguém que teve uma existência, mas cuja complexidade e múltiplas personalidades a fotografia não consegue dar conta.


- Machado de Assis branco é fake, porém relativizar dizendo que toda fotografia é uma construção e que nenhuma fotografia conseguiria mostrar o Machado de Assis real, não funcionaria. A proposta de chamar de Machado de Assis “Real” é uma estratégia retórica da campanha que faz parte da disputa de narrativa para se combater o modo como o negro é representado. Dizer que a cor do Machado de Assis não importa é racismo. Importa sim. – diz Pimentel.


Já Martha Lins, professora de Língua Portuguesa e de Literatura Brasileira no Ensino Médio, ressalta que não vai atualizar seus livros com a “nova” foto disponibilizada pela campanha “Machado de Assis Real”. Segundo ela, o escritor era mulato, filho de uma negra com um português, foi funcionário público e não teve grande participação, por exemplo, no movimento abolicionista.


- Ele não era totalmente negro, era mulato. Nem se colocava como negro em nenhuma de suas obras. Apenas no romance Memorial de Aires, de 1908, ele fala de leve sobre a Abolição. Talvez ele próprio não se visse como negro e se reconhecesse “di boa”, como dizem meus alunos, na foto clássica que agora é considerada politicamente incorreta. – afirma a professora.

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