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Mudar sem mudar

  • bixcoitodiario
  • 10 de abr. de 2019
  • 3 min de leitura

Especulação imobiliária aproveita-se da crise hoteleira e da existência de espaços ainda vazios para “renovar” o bairro do Flamengo


Por: Alcina Quintela


O recente fechamento do Hotel Novo Mundo, localizado na Praia do Flamengo, não surpreendeu o espanhol Manolo Correa, 80 anos e morador do bairro: “Eu já sabia. Um prédio desse tamanho, que pega quase um quarteirão todo e com uma localização dessas? Ele vai é virar prédio residencial de luxo, com certeza”.


Quando indagado quem lhe passou essa informação sobre o futuro do hotel ele responde: “Quem disse? Ninguém me disse, ora! Trabalhei 50 anos administrando hotéis e pensões e sei que hoje não há ocupação de hotel que pague os custos de um hotel destes. Vai ter de virar um prédio residencial e chique para poder dar lucro! ”, sentencia com a autoridade da experiência.


A governanta do Hotel Inglês, prédio com 29 quartos e vizinho do Hotel Novo Mundo, Valéria Bretanha, 50 anos, parece compartilhar da mesma opinião: “Muito hotéis têm dívidas que encolhem a folha. É que o pessoal só presta atenção nos “grandes” hotéis mas pelo menos 3 pequenos hotéis aqui das redondezas também já fecharam as portas nos últimos meses”, alerta a governanta.


Igor Santos, 35 anos, assistente de gerência do Hotel Windsor Florida, localizado no quarteirão vizinho ao antigo Hotel Novo Mundo acrescenta que a diminuição da ocupação dos hotéis em geral se deve à crise econômica. Para ele, “junto com a diminuição dos turistas em geral, mais frequentes na alta temporada de férias e feriados, ocorreu também a redução dos clientes corporativos (cujas diárias são pagas pelas empresas). São eles os responsáveis pela ocupação efetiva ao longo de todo ano”.


Hotel Novo Mundo, com 227 quartos, na Praia do Flamengo, fechou as portas e pode virar prédio residencial

Ao contrário do convicto Seu Manolo, apresentado do início da matéria, Valéria e Igor disseram não ter ideia sobre o futuro do Hotel Novo Mundo, mas também acham bem possível a sua transformação (retrofit) em prédio residencial. Os dois citam alguns empreendimentos imobiliários no bairro, como o condomínio Quartier Carioca, conjunto de 10 prédios residenciais erguido há cerca de dez, aproveitando o enorme terreno de uma antiga concessionária de carros, na Rua Bento Lisboa. Também localizada nas proximidades do Lgo do Machado, temos a construção do novo condomínio Icono Parque – Residências, que ficará pronto em 2020 e que promete uma área de lazer privativa de 7.600 m².




Familiar para o bem e para o mal


A médica Leize Barreto, 35 anos, é moradora do Quartier, mas morava antes em outro edifício a duas quadras, na mesma rua. Para ela os prédios do bairro são muito antigos e não tem as facilidades que os condomínios, ao estilo dos da Barra da Tijuca, como o Quartier, possuem em termos de lazer e segurança. “Por isso todo mundo que podia e que já morava aqui no bairro comprou um apartamento no Quartier ainda na planta. Quando ficou pronto, minha irmã que já tinha um filho ficou no nosso apartamento antigo e eu e minha mãe nos mudamos pra cá. Mais tarde eu me casei e também comprei um apartamento aqui. O bom é que assim a família consegue ficar toda perto e junta”, afirma a médica.


Já para a universitária de 22 anos, que prefere não se identificar e que é vizinha da barulhenta construção do Icono Parque – Residências, no Lgº do Machado, essa aproximação familiar parece que não será tão boa e pacífica assim: “Você precisava ver a cara da minha mãe quando ela chegou em casa depois de saber que o meu tio tinha comprado um apartamento no condomínio que estão construindo aqui do lado”, disse entre risos.

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