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População em situação de rua cresce em Vila Isabel; Prefeitura do Rio reconhece problema

  • bixcoitodiario
  • 12 de jun. de 2019
  • 4 min de leitura

Segundo porta-voz da Prefeitura, o problema no bairro da zona norte passa pela crise econômica do país; já para especialista, geração de emprego pode atenuar a questão


Por: Matheus Nascimento e Daniel Magalhães


O bairro de Vila Isabel, zona norte da capital fluminense, enfrenta um problema social difícil de ser solucionado: o aumento da população em situação de rua. Reconhecido por moradores e comerciantes da região e constatado pela Prefeitura do Rio, o tema passa pelo agravamento da crise econômica do país até a falta de assistência do poder público.


Ao caminhar pelas ruas do bairro durante um mês, a reportagem constatou que o perfil desta população varia, de crianças até idosos.


Eduardo Domingos de Lima, de 38 anos, mora na rua 28 de setembro há quatro meses. Após perder a mãe há 14 anos, ele saiu de casa e desde então mora nas ruas. Segundo ele, ir para o abrigo está fora de cogitação.


"A rua é selva de pedra", diz Eduardo que mora com o amigo Walace (41) na rua 28 de Setembro, em Vila Isabel (Foto: Daniel Magalhães)

"Estou na rua há 14 anos. Foi depois que perdi minha mãe e a situação ficou complicada. No começo é difícil, a rua é selva de pedra. Mas não quero ir para abrigo.", disse.


Segundo ele, a situação das moradias populares oferecidas pela Prefeitura do Rio são precárias. "Os abrigos não valem nada! Já fui para a Ilha [do Governador], Santa Cruz... Vários abrigos aí que você imaginar da prefeitura eu já fui. Hoje você chega na porta do abrigo e eles falam: 'oh, não tem comida, não tem colchão, não tem nada. Se quiser ir embora pode ir'. Quando passam aqui, pegam nossos nomes, dão um pacote de biscoito e uma caixinha de suco e vão embora."


Para entender melhor esta questão, a reportagem foi até a sala 517 no quinto andar do prédio da Prefeitura do Rio de Janeiro, na Cidade Nova, região central da capital, ambiente que fica localizado a Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos (SMASDH).


Com a tentativa de contato via e-mail sem retorno por mais de uma vez, a Secretaria que cuida do tema aceitou nos receber para falar sobre o assunto. Após procurar pelo secretário João Mendes de Jesus, responsável pela pasta, nas sete salas do andar, fomos direcionados até o Coordenador de Comunicação Davis Senna.


Prefeitura do Rio, na Cidade Nova, zona central da capital (Foto: Daniel Magalhães)

Em um levantamento feito pela Prefeitura do Rio na gestão de Eduardo Paes (ex-MDB – atual DEM) e divulgado em 2016, dizia que a cidade do Rio tinha 15 mil moradores em situação de vulnerabilidade. Porém, já no mandato do atual prefeito Marcelo Crivella (PRB), um estudo divulgado em 2018 pela Secretaria de Assistência Social e de Direitos Humanos, falava em um número bem menor: 4.628.


Segundo Davis Senna, o método para quantificar é falho e ainda será definido por alguns órgãos.


“Estamos fazendo um acordo entre a Secretaria, Instituto Pereira Passos (IPP) e o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Só que não está andando com muita seriedade... porque eles querem fazer um método mais preciso. Apesar de que todos os métodos têm as suas falhas.”


De acordo com Senna, o agravamento da crise econômica que o Brasil atravessa e com 1,358 milhão de pessoas desempregadas no estado do Rio de Janeiro, são alguns motivos deste aumento.




E para resolver o problema, o que fazer?


Com 40 abrigos espalhados por toda a cidade e oferecendo em média 90 vagas por dia, Senna diz que a Prefeitura faz ações de acolhimento constantemente nas ruas de Vila Isabel e nos arredores da Uerj, mas segundo ele, enfrenta dificuldades para resolver esta equação por se tratar de uma população itinerante.


"Sempre tem ações. Mas eles retornam nesses lugares. Ninguém quer um abrigo, por exemplo, num bairro longínquo como Costa Barros, Barros Filho que não tem muito o que oferecer. O cara quer ir para 28 de setembro, para Tijuca, para Uerj. Ali tem digamos uma classe média que eles podem ter acesso. Fora a questão da segurança. Quanto mais você ficar perto de lugares que tem muito movimento, você também tem mais chance de não sofrer violência.", analisou.


O que dizem os moradores?


Roberto Siqueira, de 52 anos, é comerciante e morador do bairro boêmio há quatro décadas. Segundo ele, desde o ano passado, o problema se agravou: “Percebi esse aumento desde o ano passado. Vila Isabel vem sofrendo demais com isso. É uma forma ruim de ver o ser humano exposto”, analisou.




“Você não vê uma parte social que consiga trabalhar com essas pessoas e que tirem elas desse estado tão deplorável. Ao mesmo tempo em que eles estão dormindo na rua, à noite eles saem para pegar alguma coisa nas casas, invasão nos domicílios.”, disse Roberto.


Ainda segundo o comerciante, o problema se estende também aos arredores da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e que fica próximo à estação de metrô do Maracanã, onde muitas pessoas se alojam para usar entorpecentes: “Na Uerj hoje tem um acúmulo muito grande de pessoas ali na ‘cracolândia’ em frente a [favela da] Mangueira. Essas pessoas acabam vindo aqui para o bairro e provocam esse distúrbio social enorme”.


Já para Lourdes Pereira, de 58 anos e moradora de Vila Isabel há 10 anos, a instalação do programa "Tijuca Presente" no bairro vizinho, que consiste na presença de policiais militares em parceria com instituições privadas, fez com que a população em situação vulnerável migrasse.


"Depois que colocaram o Tijuca Presente, aumentou muito os moradores aqui nas ruas de Vila Isabel. Colocaram eles para correr de lá e eles vieram para cá", disse Lourdes.


Geração de emprego e renda


Para a Bruna Miranda, Assistente Social pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e pós-graduada em Saúde Pública pela USP (Universidade de São Paulo), a solução passa pela geração de emprego e renda, para assim promover cidadania.


"Hoje temos 13 milhões de desempregados, mas o que caracteriza o aumento da população em situação de rua, é uma grande crise econômica que o país tem passado. Nós percebemos que famílias foram morar nas ruas, porque não tiveram condições de pagar o próprio aluguel. A casa própria ainda é um sonho da maioria dos brasileiros".


Bruna Miranda comenta o assunto:


De imediato, Bruna diz que o acolhimento destas famílias pelo poder público e o oferecimento de abrigos são necessários.


"É previsto na Assistência Social a segurança de acolhida. Precisa oferecer abrigo para essas famílias, nem que seja para pernoite. Efetivamente, a geração de emprego e renda é fundamental para resolver esse tema. O trabalho é um direito social.", finalizou.







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