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Moda sustentável: uma nova forma de consumir

  • bixcoitodiario
  • 29 de mai. de 2019
  • 3 min de leitura

Por: Jéssica Soares


Na semana do meio ambiente, o Rio de Janeiro sediará o primeiro fórum internacional de moda sustentável, o Rio Ethical Fashion, idealizado por Yamê Reis. De 6 a 8 de junho, o evento pretende discutir a viabilização do conceito de desenvolvimento sustentável até 2030, ano limite para a implantação das medidas em todas as empresas do mundo.


O encontro acontece no momento em que a Organização das Nações Unidas querem assumir um papel de liderança no assunto, por meio da criação da Alliance for Sustainable Fashion (Aliança para a Moda Sustentável). Isso porque, segundo estudos da Natural Resources Defense Councile, a indústria da moda é uma das maiores poluidoras do mundo. Para produzir uma única camisa de algodão utiliza-se 2.700 litros de água - o que uma pessoa bebe em dois anos e meio, de acordo com o World Wild Fund. As fábricas têxteis usam 5 trilhões de litros por ano, apenas para tingimento de tecidos, e poluem os oceanos com cerca de 20 mil produtos químicos diferentes, segundo relatório da Global Leadership Award in Sustainable Apparel (GLASA).


Apesar de todos os impactos negativos ao meio ambiente, a produção de roupas quase dobrou nos últimos 15 anos e a demanda continua crescendo, com menos de 1% de todo o material sendo reciclado, de acordo com relatório de 2017 da Fundação Ellen MacArthur. Por isso, repensar a maneira de consumir é essencial, como explica Gisely Horta, formada em moda e mestranda de antropologia pela UFF, dedicada à pesquisa de ressignificação do consumo. “É necessário entender quais são as reais necessidades de consumo do seu estilo de vida, entender aonde é preciso, possível e necessário reduzir. Questionar as empresas sobre seus processos, entendendo a necessidade da transparência nesse momento. É um caminho lento mas acessível”, afirma.

Máquina de tecelagem. Foto: Hasan Oguz por Pixabay.

Uma forma de consumir consciente é dar maior vida útil às roupas, essa é a proposta dos brechós. Pode-se perceber, através das ruas e das redes sociais, que esse segmento tem crescido consideravelmente. Em 2018 aumentou 47% em relação ao ano anterior, como mostra a pesquisa ThredUp 2018 Resale Report. Quem resolveu entrar no mercado foi a designer Thamíris Barbosa e Mariana Pereira, que é formada em moda, as duas são sócias no Brechó and The City. Thamíris contou que o empreendimento surgiu por uma necessidade de completar a renda em um momento financeiro difícil: “Eu tinha uma loja online com roupas maravilhosas, porém muito caras, estava com mais gastos do que lucro. Não queria oferecer algo que eu também não pudesse consumir. Conversando com a minha amiga Mariana, resolvemos montar o brechó”.


A designer fala que a ideia do Brechó and The City é formar looks interessantes com roupas de segunda mão e postar fotos, para que as pessoas enxerguem a roupa usada de uma nova maneira. “Não vai ser só uma peça, a gente vai elaborar aquela peça para você, focando principalmente no universitário e no adolescente que ainda não têm emprego. Assim, ajudamos quem quer comprar mas não pode pagar caro e quem tem coisa encalhada e quer se desfazer”, diz Thamíris.

As sócias Mariana Pereira e Thamíris Barbosa usando roupas do brechó. Foto: divulgação.

Outra que faz sucesso nas redes sociais incentivando o reuso é Thayná Freire, estudante de moda, que possui mais de 52 mil seguidores acompanhando a #DicadaMana. A hashtag foi criada para dar sugestões de moda, garimpo em brechós e upcycling (técnica de criar algo novo a partir dos itens antigos). A estudante fala que sempre gostou de ter peças únicas e por isso frequentava brechós a fim de modificar as roupas e encaixá-las no seu estilo. “Muita gente virava o nariz para brechó até eu dizer que a maioria das minhas roupas eram garimpadas. Eu sempre dei cara nova as minhas peças, mas estudar moda me aproximou de combinações de estampas que eu não fazia, me aproximou mais ainda do upcycle e me incentivou a garimpar peças com modelagem antigas, com um olhar mais histórico sobre as roupas ”, afirma.


A universitária Luíza Regina, 22 anos, conta que sempre comprou em brechó por causa do preço, mas que agora se atenta mais às questões ambientais. “De uns 5 anos para cá, passei a comprar 90% do que uso em brechó e levar mais a sério a moda consciente e sustentável. Acho que é legal o processo de escolha no brechó, porque é uma oportunidade de autoconhecimento e, principalmente, de entender que as coisas não são descartáveis como a indústria faz parecer”, diz.

Thayná Freire e Luiza Regina utilizando roupas de segunda mão. Foto: arquivo pessoal.

Pensando na necessidade de consumir com mais responsabilidade, essa tendência surge como um modelo viável, ambiental e socialmente. De acordo com a pesquisadora de ressignificação do consumo, Gisely Horta: “As demais formas de reuso são fundamentais quando se trata de moda. Já fizemos roupa o suficiente, costumamos dizer que a roupa mais limpa é aquela que já existe. A educação é a ferramenta principal para a mudança”.

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