Insetos comestíveis: o sabor do amanhã
- bixcoitodiario
- 10 de abr. de 2019
- 3 min de leitura
Atualizado: 17 de jun. de 2019
Diversificações de proteínas é aposta para um futuro sustentável
Por: Pedro Miller
Mais de 2 bilhões de pessoas no mundo já consomem insetos regularmente. A estimativa da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) pode parecer alta, mas com o aumento populacional, esse número terá que crescer, e muito, para garantir uma alimentação digna para todos. Esse é um dos temas explorados na nova exposição temporária do Museu da Amanhã, Pratodomundo - Comida para 10 bilhões, inaugurada quinta-feira, dia 11.

Para um dos idealizadores, o gerente de conteúdo do museu Leonardo Menezes, a exposição se centra nos desafios de alimentar uma população, que segundo a ONU, crescerá em 30% até a década de 2050. “Precisamos garantir não só o acesso à comida, mas que isso seja feito de forma sustentável, com diversidade na produção e qualidade nutricional, então a questão do alimento por insetos acaba tocando todos esses pontos. A criação de insetos gera muito mais proteína por quilo do que a carne bovina, ou de aves. Sendo possível produzir muito mais, com menos recursos.”
No Brasil, apesar de exceções como a farofa de Içá, uma iguaria comum no Vale do Paraíba feita com formigas tanajura, esse hábito está longe de ser comum. Existem, porém, pessoas dispostas a mudar essa realidade. É o caso de Patrícia Milano, doutora em entomologia pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), que se especializa na criação de insetos para consumo humano.
Para Patrícia, os insetos são particularmente interessantes pela alta quantidade de proteína, e de nutrientes como cálcio e ferro. São também muito viáveis do ponto de vista ecológico. “Ao contrário da pecuária, você não precisa devastar florestas para criar esses insetos. Pode fazer fazendas verticais, em edifícios nos centros das cidades, onde criam-se toneladas de insetos em cada andar. Não é que você vai deixar de comer a sua carninha de vez em quando, mas seria bom incluir os insetos na alimentação. Hoje nós produzimos muito a carne, mas talvez daqui alguns anos essa quantidade não seja mais suficiente, nem para o consumo nem para exportação. E vamos fazer o quê? Desmatar tudo só para ficar exportando carne?”
Talvez a maior dificuldade enfrentada por quem tenta incentivar o consumo de insetos seja simplesmente a questão da aparência. Durante as pesquisas na Esalq, Patrícia percebeu que ao apresentar os grilos que produzia cobertos de chocolate, a aceitação ficava muito maior. “Você nem acredita que o inseto tá lá. Tem gente que quando come fala que parece com um Bis.”
Essa também foi a experiência de Luiz Filipe Carvalho, sócio fundador da Hakkuna, uma das primeiras empresas brasileiras dedicadas à produção de insetos comestíveis. “O nosso principal produto são barrinhas de proteína com farinha de insetos. Preferimos esconder o inseto pois é mais fácil para processar e formar a barrinha, e isso ajuda um pouco a reduzir a barreira de consumo quando a pessoa vê o inseto inteiro, mas também vendemos insetos inteiros e há uma saída razoável.”
Hoje, a barreira cultural parece intransponível, mas o futuro está logo ali. Pelo menos é o que acredita Luiz Felipe, “Há 30 anos no Brasil, a aversão a comer peixe cru era bem semelhante a aversão de hoje com o consumo de insetos. Hoje a alimentação com Sushi é perfeitamente normal. Quem sabe em alguns anos a alimentação com insetos siga esse caminho?”
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