Contra a Corrente: Enquanto cresce o movimento #BodyPositive, haters ainda têm voz nas rede sociais.
- bixcoitodiario
- 10 de abr. de 2019
- 3 min de leitura
Por: Beatriz Caetano
O movimento de democratização das mídias, sobretudo das redes sociais, vem dando voz à discursos cada vez mais inclusivos. É o caso do Body Positive, movimento que luta contra os padrões de beleza impostos, em favor da diversidade de corpos. Toda a militância vem mostrando resultados: no Brasil, até março de 2019, três das maiores influenciadoras do nicho somavam juntas mais de 600 mil seguidores. Já a hashtag #bodypositive, que filtra as postagens sobre o assunto no mundo todo, acumula mais de 9 milhões de postagens no Instagram. Ainda assim, comentários negativos continuam sendo uma realidade no dia a dia de quem fala sobre o assunto.
A militância Body Positive aponta para um novo cenário, mais tolerante. Sua proposta é simples: romper com padrões estéticos e enxergar beleza em todos. Mas, apesar do ambiente empático, influenciadores reclamam de ainda receber mensagens com teor gordofóbico nas redes. É o caso de Caio Cal, youtuber e sócio no coletivo Toda Grandona. Ele usou sua conta no Instagram para desabafar: "Falar sobre corpo e autoestima gorda é ter que lidar diariamente com a maldade de pessoas que nem me consideram humano. É ter sua autoestima e saúde contestadas a todo tempo por pessoas que se dizem preocupadas". Caio costuma falar sobre transtornos alimentares e a prática de exercícios físicos para seus mais de 50 mil espectadores. Para ele, lutar contra a gordofobia que resiste mesmo nos espaços de inclusão é difícil e cansativo. "É ter que respirar fundo para não se deixar abater por comentários de pessoas que ainda acham que é normal zoar pessoas gordas", completa.

Apesar do número menor de seguidores, os nano influenciadores também são alvos dos ataques cibernéticos de gordofobia. Para Anna Carmen, carioca seguida por 16,5 mil pessoas no Instagram, os comentários são muito cruéis. A estratégia adotada por ela é ignorar: as mensagens são instantaneamente apagadas. "Gordofobia é um dos preconceitos que tem respaldo patológico para existir. Todo mundo tem licença para ser gordofóbico na sociedade. As pessoas se sentem muito à vontade para expor o seu ódio e acabam justificando a intolerância como preocupação". Os comentários vão de conselhos à ameaças. Alguns dos haters dizem que ela não verá seus filhos crescerem, por exemplo. "O principal é não desistir de botar a cara a tapa. O movimento está crescendo e quem bota a cara é estapeado, mas estamos aqui para isso. Eu acredito que vamos erradicar o preconceito. Corpos gordos importam.", diz.
A corrente de ódio é facilmente alimentada. Sentimentos como raiva, ódio e desprezo fazem sucesso na internet porque conseguem engajar pessoas que pensam de maneira parecida. Ferramentas como as hashtags, hiperlinks indexáveis pelos mecanismos de busca dentro da rede, facilitam o processo. Basta uma pesquisa rápida por palavras chave, como #bodypositive ou a popular #corpolivre. Isso, é claro, somado à falsa sensação de anonimato que as redes sociais transpassam. Grande parte dos comentários são realizados por perfis falsos
Os ataques cibernéticos, no entanto, também vem de pessoas públicas. Em 2017, a jornalista e youtuber Alexandra Gurgel foi alvo de piadas gordofóbicas do apresentador Danilo Gentilli. Na época, Alexandra declarou: "O mundo para quem é minoria já é chato há muito tempo. Nunca foi divertido sofrer preconceito. Nunca foi legal ser marginalizado. Nunca foi motivo de riso ser expulso de casa, ser maltratado, ser visto como doente, ser visto como desprezível. Nunca foi divertido para a gente. Agora que a gente está tendo visibilidade, está tendo espaço, está começando a ficar um pouco mais legal o mundo, porque esses assuntos estão vindo à tona. Está começando a ficar chato para você, né?".

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