As 'Millennials' soltam a voz nas rodas musicais do centro do Rio
- bixcoitodiario
- 14 de jun. de 2019
- 3 min de leitura

Por Taíza Moraes
Uma é de 1993, a outra, de 1995. A mais velha, Ane Lopes, é amante do samba. Já Ingrid Barbosa, ama um pagode retrô. Elas são da geração Millennium, como são chamadas mulheres que nasceram na década de 90, e tem mais que isso em comum: estão produzindo as rodas culturais no centro do Rio e conquistando espaço em uma cena musical marcada por resistência.
Ane Lopes, na verdade, se chama Thaiane. Uma menina que nasceu em uma família musical, mas nunca imaginou trabalhar no meio. Começou a estudar Comunicação Social, mas decidiu, no 4° período, largar tudo para se dedicar a música. Já era de se esperar, o pai, músico profissional, Carlinhos Tcha Tcha Tcha trabalhava com ninguém mais, ninguém menos, que Beth Carvalho. Além disso, Thaiane é sobrinha-neta do historiador, cantor e compositor Nei Lopes.

Foram me chamar
Eu estou aqui, o que é que há ♫
Aos 15 anos, Thaiane cantava nas festas de família e se interessou pelo samba como profissão. Aos 18 anos, participou como corista em um disco e backing vocal em um show e, um ano depois, começou a ser convidada para cantar nas rodas de samba. Atualmente, faz rodas em lugares como o Carioca da Gema e o Beco do Rato, ambos na Lapa.
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‘’Com 19 já era convidada das rodas de samba, mas ainda assim eu trabalhava como vendedora em shopping porque o samba não me sustentava. Com 23 anos larguei tudo e me dediquei unicamente a música.’’
Ouça a voz de Ane Lopes nos vídeos publicados em seu Instagram:
Uma da maiores inspirações de Ane no samba tem nome e sobrenome: Beth Carvalho, cantora e compositora que faleceu em abril deste ano. ‘’O que eu mais achava interessante dela, era todo seu empoderamento diante de uma roda majoritariamente masculina. Além dela, sempre admirei Dona Ivone Lara, Elis Regina e, da minha geração, minha inspiração é a Marcelle Motta’’, declara a cantora.
Antes de me despedir,
Deixo ao sambista mais novo
O meu pedido final ♫
Quem não deixa o samba morrer são as mulheres. Para a musicista, elas estão cada vez mais conquistando espaços e buscando trazer mais amigas, para que uma roda só de mulheres, não seja mais novidade. Os episódios de machismo que Ane já passou é um problema ‘’latente ainda’’, aponta.
Ingrid Barbosa, cantora que faz parte do grupo Batuque Delas, concorda com Ane. ‘’A galera não leva a sério, acha que a mulher tá fazendo ‘’um som’’, não acham que estão trabalhando fazendo música, acham que sempre é brincadeira’’, critica. Ingrid tem 23 anos, canta e toca guitarra no Sapagode, evento organizado só por mulheres que acontece em lugares como Beco do Nanam e Lapa.

O Sapagode surgiu da ideia de criar um espaço para um público de maioria LGBT. A musicista conta que os espaços onde toca pagode são geralmente ''hétero-normativos'' com maioria homens e foi por isso que ela junto com mais de dez mulheres para criar um ambiente ''agradável para quem LGBT e seguro para quem é mulher''.
‘’Grids’’ como é chamada por amigos, se inspira em mulheres como a cantora Ivete Sangalo que estão na música e levam a profissão de forma descontraída. Quando pensa em referências musicais, a pagodeira lamenta o baixo número de mulheres representando o pagode.
‘’Não tem referência. Normalmente, nós temos referências no samba, mas muito difícil ver mulher fazendo pagode, é sempre homem. A última mulher conhecida no meio do pagode, que eu vi, foi na época da ‘’Adriana e a Rapaziada’’, diz a cantora
Ouça a voz de Ingrid Barbosa nos vídeos publicados em seu Instagram:
Deixa comigo, deixa comigo Eu seguro o pagode e não deixo cair ééé ♫
Tanto Ingrid Barbosa e Ane Lopes acreditam que o crescimento de jovens mulheres no comandando das rodas é uma realidade mais presente na cena musical carioca. Para Grids, o empoderamento feminino possibilitou que mulheres tivessem ''coragem para bater no peito e ocupar um espaço que não era ocupado'' e assim, as rodas se tornarem mais representativas. Para Ane Lopes, é bem por aí que a banda toca. Ela afirma que hoje há uma maior rejeição de um repertório misógino/machista/racista no samba que nos anos 90 e é por esse motivo que as mulheres estão mais inseridas nas rodas de samba.
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