Profissão Árbitro: Os desafios do apito
- bixcoitodiario
- 12 de jun. de 2019
- 3 min de leitura

Por: João Brandão e Yago Rodrigues
A profissão do árbitro de futebol, embora possa parecer divertida por estar aparecendo toda quarta e domingo na televisão, ao lado de grandes jogadores, que milhares de pessoas fariam de tudo para conhecer, é, na maioria das vezes, difícil, sem glamour e até mesmo solitária. E quando se conhece um juiz que trabalha em divisões inferiores, como é o caso de Fernando Varella, percebe-se falhas na questão estrutural do sistema.
Varella tem 28 anos, é carioca, professor de educação física e membro do quadro de arbitragem da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Ferj). Atualmente, trabalha em jogos de competições de menor escalão e visibiliadade, como as Séries B1, B2 e C do Campeonato Carioca, e por mais que adore estar apitando jogos desse tipo, para ele, viver exclusivamente dessa profissão hoje seria impossível. Uma vez que, a sua principal renda vem do seu trabalho como educador físico, e o dinheiro que ganha com a arbitragem, só entra em seu orçamento como uma renda extra.

“A gente trabalha por escala, aí não dá para saber se seremos ou não escalados para os jogos. Por isso, não dá para contar com esse dinheiro, e precisamos ter outros empregos para conseguir pagar as contas”, disse Varella.
A trajetória de Varella como juiz começou em 2012, no curso de arbitragem promovido pela Ferj. Ele via nessa chance, a forma de viver o seu sonho de trabalhar dentro do futebol. E, após um ano de estudo e estágios em jogos do campeonato estadual sub 12, ingressou no quadro de árbitros amadores.
A partir desse momento, os trabalhos em categorias mais altas se tornaram mais frequentes. Tendo inclusive, a oportunidade de apitar duas semifinais do Campeonato Carioca sub-20 e a final entre Flamengo x Botafogo válida pelo do Torneio Octávio Pinto Guimarães (OPG), sendo estas, as principais competições da categoria sub-20 no Rio de Janeiro.

Mas essa paixão pela arbitragem e pelo futebol acaba encontrando algumas dificuldades, como Varella explica.
A primeira vista, Varella e Carlos Eugênio Simon, um árbitro de três Copas do Mundo, atualmente comentarista dos canais Fox Sports, não possuem nada em comum, a não ser a profissão. Contudo, olhando mais atentamente, é possível encontrar similaridades em suas trajetórias, experiências e anseios.

Um dos maiores árbitros que o Brasil já teve, começou sua carreira no Rio Grande do Sul através de seu amor pelo futebol e, assim como Fernando, teve que passar por um curso da federação gaúcha, aos 18 anos, e durante um longo período precisou ter um segundo emprego. No entanto, somente após se consolidar como um dos principais profissionais do Brasil, e posteriormente do mundo, atuando em Libertadores, Olimpíadas e Copas do Mundo, é que Simon pôde viver só da arbitragem.
Simon é a exceção da regra, mas também é uma pessoa que sempre lutou por sua categoria dentro e fora dos gramados, como na luta pela profissionalização da arbitragem.
Entre 1985 e 1992, Simon apitou jogos de categorias amadoras do Campeonato Gaúcho e, com isso, pode conhecer a dura realidade do futebol brasileiro e, principalmente, da arbitragem. Para ele, um dos principais problemas gerados pela não profissionalização da arbitragem, é o de que, independente do nível em que o profissional esteja, ele continua solitário. “O árbitro tem que treinar, estudar, quando se lesiona tem que procurar o médico, o fisioterapeuta, é tudo por conta do árbitro”.

Enquanto é possível observar a vida de jogadores com toda a estrutura que os clubes podem fornecer, os árbitros contam com pouca ajuda. Entre 2007 e 2009, Simon foi presidente do Sindicato dos Árbitros de Futebol do Estado do Rio Grande do Sul, e nesse período, conseguiu colocara em prática, diversas ideias que deram suporte para os árbitros gaúchos. Como a contratação de profissionais de educação física e advogados, e a aquisição de livros de regras.
Atualmente, segundo Fernando Varella, a federação carioca disponibiliza o transporte para os jogos, um professor de educação física para auxiliar na preparação e a pista de atletismo do Estádio Nilton Santos, para que os profissionais possam treinar a parte física, mas sem acesso a academia do local. A parte de alimentação e musculação continua sendo por conta própria do juiz.
Com todas essas dificuldades enfrentadas, além das críticas de torcedores e da imprensa, e dessa solidão. As semelhanças entre árbitros de diferentes níveis do futebol são muito grandes, e todos tem em comum a busca de uma melhor condição de vida e de trabalho. E veem na luta pela profissionalização da arbitragem, o principal caminho rumo à mudança e melhora na qualidade desses indivíduos.
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