Mais que apenas pompons: o crescimento do cheerleading no Brasil
- bixcoitodiario
- 10 de abr. de 2019
- 5 min de leitura

Por: Alessandra Ananda
As apimentadas, Glee, High School Musical, essas são algumas produções Hollywoodianas nas quais é possível conhecer um pouco sobre o cheerleading (ou, no diminutivo, cheer), esporte originado em 1884 nos Estados Unidos. Porém, não há aprofundamento, nas tramas mencionadas, sobre cada aspecto que envolve a prática do esporte. São mostradas, majoritariamente, meninas com personalidade fúteis, vestidas com roupas curtas, dançando e balançando pompons. O cheerleading vai, no entanto, além desse estereótipo. Trata-se de um esporte em equipe que mistura de dança, ginástica, acrobacias e stunt (como, por exemplo, pirâmides humanas). Apesar de sua tradução significar “animar torcida”, o cheer exige muito mais do que isso. Os atletas precisam desenvolver habilidades ligadas à trabalho em equipe, flexibilidade, consciência corporal, força, entre outros.
O esporte está em crescimento no Rio de Janeiro, bem como no Brasil, tanto em âmbito profissional quanto no universitário. Em 2008, constavam, de acordo com a União Brasileira de Cheerleaders (UBC), 23 equipes credenciadas. Em 2009, a UBC passou a organizar o Campeonato Nacional Cheer & Dance, que reuniu 150 atletas em seus primeiros anos. Já em 2018, na sua última edição, esse número atingiu por volta de 500 participantes. Desde então, outros campeonatos surgiram em território brasileiro, como o Cheerfest, criado em 2015. Cauê Souza, treinador do ginásio Elite All Star, com sede no Rio de Janeiro e em Volta Redonda, dono da empresa Cheerfest e pioneiro do cheerleading no Brasil conta que pôde acompanhar toda a evolução do cheer no país, “em 2007, não existia nada. O esporte começou a realmente ter um pouco mais de notoriedade a partir de 2010. Foi quando nós tivemos a Seleção Brasileira de Bauru”.

Cauê morou nos Estados Unidos no período entre 2001 e 2007, onde entrou em contato com o cheerleading. Em 2007, ele competiu o mundial pelo Cheer Eclipse Comets. No mesmo ano, voltou ao Brasil e trouxe, consigo, a vontade de tornar o cheerleading brasileiro possível. Em 2015, ele deu mais um passo, organizando um dos campeonatos nacionais mais famosos atualmente, o Cheerfest. “Só existia uma competição de cheer no Brasil e eu estava bem insatisfeito. Então, com a minha experiência e a minha vivência no esporte, decidi investir nessa área. No primeiro ano do Cheerfest, em 2015, foi um pequeno estadual, aqui no Rio de Janeiro, que deu 200 atletas. No ano seguinte, nós tivemos o primeiro Cheerfest Nacional, que deu pouco mais de 500 pessoas. Em 2017, tivemos também um crescimento, indo para mais ou menos 650 atletas. E, no ano de 2018, aconteceu um boom, que foi de 1100 atletas”.
Neste ano, devido ao aumento da adesão, o Cheerfest Nacional, que costumava acontecer em Volta Redonda, será em Uberlândia, a fim de, segundo Cauê, contemplar as demandas da quantidade crescente de atletas e equipes, “com o crescimento de inscritos, a infraestrutura aumenta também. Quanto mais inscritos, mais atletas, mais dinheiro pra você fazer um campeonato melhor. A mudança do Cheerfest de Volta Redonda para Uberlândia é justamente pela infraestrutura. É uma forma de abraçar os atletas com seriedade e respeito”.
Mas o Cheerfest também pensa em acolher o máximo possível os times iniciantes de diversas localidades, com seus campeonatos regionais. “Nós criamos os regionais exatamente porque vemos essa necessidade dos times iniciantes de também participarem de um campeonato bacana, de qualidade e decente. Nem todos os times têm o financeiro ainda pra fazer esse tipo de viagem e ter esse tipo de gasto”, destaca o organizador da competição.
Para Cauê, um dos motivos que possibilitou o crescimento do cheerleading e o surgimento de campeonatos como o Cheerfest foi a disseminação do esporte no meio universitário, “o que ajudou foi o surgimento dos times universitários. Ajudou bastante a propagar o cheer. Esses campeonatos universitários, como Intereng, Intermed, Engenharíadas”. Para Erik Reis, atleta desde 2011 e um dos treinadores do Trinity Cheer Sports, os times universitários servem como uma porta de entrada, “os universitários basicamente desenvolvem o interesse de muita gente ‘nova’ no esporte, que migram pro All Star (cheerleading profissional) pra levar mais a sério. Eu vi passar de uma realidade em que ninguém sabia o que era cheer para uma em que todas as faculdades têm equipes.”

Mas o cheerleading, nas universidades, ainda enfrenta alguns desafios, devido aos estereótipos e à dificuldade de reconhecimento da prática como esporte. “Sem dúvidas ‘pompom’ era a primeira palavra que ouvíamos no tryout (teste para entrar no time). Quando os interessados viam que não tinha nada a ver, a pergunta passou a ser ‘vou jogar ou voar?’. Mas o que é importante passar para os atletas é que pom dance é muito legal, caso seja do gosto dela ou dele; mas existe um outro lado do esporte completamente diferente e que é tão importante quanto”, relata Daniella Espíndola, coordenadora do time de cheer do Centro Universitário IBMR.
Esse preconceito direcionado ao cheerleading afeta também a posição do esporte em competições universitárias. “O ambiente universitário, embora seja muito inclusivo, é ainda muito preconceituoso, principalmente por parte das autoridades das atléticas. Algumas presidências não reconhecem o cheer como um esporte de fato. Isso faz com que as empresas organizadoras dos jogos não nos acolham como uma modalidade esportiva. Então, a luta ainda é muito grande”, apontou Larissa Daim, coordenadora do time universitário de Comunicação Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Essa falta de apoio foi um dos aspectos que atrapalhou o crescimento do cheerleading no curso de Economia da UERJ. "A equipe da Taurus (atlética de Economia - UERJ) teve suas atividades interrompidas em dois períodos. Assim que me tornei coordenador, no início de 2018, e no final do mesmo ano. Ambas as vezes foram por falta de verba, consequência da falta de apoio da Taurus, e até podemos dizer que pela incompatibilidade na disponibilidade dos atletas. Creio que nosso retorno se deu pela minha insistência, com o apoio de 2 membros da equipe, e pelo crescimento do esporte no ramo universitário.", relata Rhodolpho Gevú. Mas, segundo ele, essas complicações não o desanimaram com relação ao esporte. Em 2019, Rhodolpho ingressou no ginásio Arkhaios AllStars, onde pôde se comprometer ainda mais com o cheer. "Creio que a situação delicada do cheer da Taurus tenha intensificado um pouco minha visão das dificuldades do cheer universitário no geral, o que me fez querer estar em um time em que as pessoas levassem a sério, tendo comprometimento e paixão pelo esporte. Arrisco dizer que foi uma das minhas melhores decisões, inclusive", contou.
Ana Helena, que começou a praticar o esporte em 2015, ainda no colégio, conta o quanto é importante que o cheer seja reconhecido como esporte, “muitos subestimam a preparação, o suor e a força dos atletas, por acharem que é somente uma dança com pompons. A inclusão do cheerleading como esporte pode iluminar o conhecimento dessas pessoas, para que comecem a dar valor. É importante para que a visão brasileira sobre o esporte mude, para que ele possa crescer ainda mais e adquirir mais atletas, além de poder abrir portas para a obtenção de mais segurança para os treinos, que, diversas vezes, acontecem em locais não tão adequados, como em algum espaço sem tatame”.
Apesar de certos empecilhos, o cheerleading universitário ainda atrai diversas pessoas, servindo como um primeiro contato com o esporte. “Um fator que tem me motivado a querer entrar na faculdade é esse: poder fazer parte de um time e aprender um pouco mais sobre o mundo do cheer. Vivenciar um pouco do que tenho ouvido tantas pessoas compartilharem! Parece ser incrível e capaz de abrir portas e horizontes”, disse Isabella Catorza, que se interessou pelo esporte quando sua irmã ingressou nele, em 2018.
E, segundo Erik Reis, a característica que mais atrai atletas para o esporte e justifica seu crescimento é exatamente o quão acolhedor ele é. “É um esporte inclusivo, tem espaço pra todo mundo. Não importa se você é gordo, magro, alto, baixo, homem, mulher, sempre tem espaço para você no cheer se quiser se dedicar”, elogiou o treinador.

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