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Centenário do Estádio de Laranjeiras: celebração do futebol intimista

  • bixcoitodiario
  • 7 de mai. de 2019
  • 4 min de leitura

Parte dos torcedores do Fluminense deseja a volta de partidas da equipe profissional masculina ao local, construído para o Brasil sediar, em 1919, o torneio hoje denominado Copa América e marcado por glórias do futebol brasileiro



Estádio de Laranjeiras em 1919, ano de sua inauguração (Fonte: acervo do Fluminense Football Club)

Por Milena Oliveira


Em 1914, o campo de Laranjeiras sediou o primeiro jogo da história da seleção brasileira de futebol, que estreou com vitória sobre os ingleses do Exeter City por 2 a 0. Cinco anos após, para que o Brasil pudesse sediar o Campeonato Sul-Americano de Seleções de 1919, competição hoje denominada Copa América, Arnaldo Guinle, presidente do Fluminense à época, teve a iniciativa de construir, no local, apenas com recursos do clube, o Estádio Manoel Schwartz, mais conhecido como Estádio de Laranjeiras ou Estádio das Laranjeiras. No próximo dia 11 de maio, sua inauguração completa cem anos, marcada por uma goleada de 6 a 0 do Brasil sobre o Chile, em um ambiente do qual parte dos torcedores sente falta, bem diferente do proporcionado pelas arenas modernas.


Inicialmente com capacidade para 18.000 pessoas, o estádio foi ampliado em 1922, passando a comportar 25.000 torcedores. O Brasil jamais perdeu em Laranjeiras, onde ganhou o Campeonato Sul-Americano de Seleções de 1919 e teve sua última conquista em 1931, quando venceu o Uruguai por 3 a 2 na Copa Rio Branco. Já a equipe profissional do Fluminense lá disputou partidas até 2003 e realizou seus treinos até 2016, ano em que foi inaugurado o centro de treinamento da Barra da Tijuca.



Seleção brasileira vencedora do Campeonato Sul-Americano de Seleções de 1919 no Estádio Manoel Schwartz (Foto: acervo do Fluminense Football Club)

No dia 11 de maio, haverá o lançamento da venda de uma coleção de moedas comemorativas, produzidas em parceria do Fluminense com a Casa da Moeda e, durante todo o mês, o time jogará com um patch na camisa, alusivo aos cem anos do estádio. Já no dia 21 de julho, aniversário do clube, será lançado o livro oficial “Estádio de Laranjeiras 100 anos – Aqui nasceu o futebol brasileiro”, escrito por Carlos Santoro, Dhaniel Cohen e Heitor D´Alincourt.


A preservação do acervo documental e da história do clube, por meio do Flu-Memória, que, a partir de 2017, tornou-se um braço do Departamento de Marketing, foi fundamental para a elaboração do livro. “Felizmente, temos imagens preservadas de todos os grandes momentos da história do estádio e fizemos recentemente a digitalização das fotos. Vamos revelar parte dos detalhes no livro”, afirma Dhaniel Cohen, que trabalha no Fluminense desde 2010 e passou a integrar o Flu-Memória desde 2012.


Cohen acrescenta: “o fato mais legal da obra é ser uma justiça histórica ao que aconteceu no futebol brasileiro nas primeiras décadas do século XX. O livro deixa bem claro que Laranjeiras é o berço do futebol nacional, onde o termo 'torcedor' e a paixão pelo esporte nasceram”.


Naquela época, as moças iam assistir aos jogos no local e, com calor, tiravam suas luvas. Nos momentos decisivos, descontavam a tensão torcendo aqueles acessórios, o que deu origem à palavra “torcedor”.


“Laranjeiras seria um exemplo do que era o futebol antigo, romântico, sem o conforto atual, sem os conceitos de modernidade, mas, ao mesmo tempo, bem mais intimista”, ressalta Cohen.


O tricolor Carlos Gonçalves, sócio do clube, diz sentir falta do ambiente acolhedor das partidas, o que, para ele, não é proporcionado pelas novas arenas, como as da Copa do Mundo de 2014, construídas não apenas para a realização de jogos de futebol, mas também de shows e outros eventos. Declara: “o estádio de hoje não tem atmosfera que lembre futebol. Está muito antisséptico. Ficou um clima de camarote. Plateia é diferente de torcida! Futebol é pressão no adversário! É gritaria para estimular o time! A acústica das arenas é diferente. Imagina Boca Juniors sem La Bombonera?”.



Carlos Gonçalves em visita ao Estádio das Laranjeiras no último sábado (Foto: Milena Oliveira)

Pelo menos parte dos torcedores do Fluminense deseja a volta de jogos da equipe profissional masculina a Laranjeiras. “Há um projeto de revitalização sendo tocado por alguns sócios do clube. De todo modo, o fato de o estádio completar 100 anos vai trazer o tema à tona, para debate”, informa Cohen.


Embora não esteja à frente do projeto, Gonçalves afirma apoiar a realização de partidas do Campeonato Carioca e de menor apelo do Campeonato Brasileiro no local.


Outra torcedora, Bruna Bento, também apoia a iniciativa e realça: “o Fluminense é um clube centenário e merece reviver suas glórias na sua própria casa, em estádio próprio, no meio do burburinho da cidade”.


Já Leonardo Romão, apesar de enaltecer a história do estádio, onde gostou muito de assistir a jogos nos anos 80 e 90, alerta que a estrutura requer cuidado para não ruir e tem dúvida se gostaria que o local voltasse a sediar jogos da equipe masculina profissional: “tenho um pouco de receio de me decepcionar com a experiência, de me sentir em um ritual nostálgico e, não, em um jogo de futebol. Aquilo ali é um simulacro de túnel do tempo, mas não dá para voltar no tempo. O que eu sei é que, gostando ou não, eu estaria lá”.


Atualmente, o espaço é utilizado para jogos e treinos das equipes de base e da equipe profissional de futebol feminino e está disponível para visitas guiadas (FluTour) de terça a sexta, das 10h às 18h, aos sábados, das 10h às 16h, e aos domingos, das 10h às 14h, com pacotes a partir de R$ 20,00.

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